Criança salva dos pais Testemunhas de Jeová na Geórgia

Alguns podem achar a atitude do presidente totalitária, mas não caio nessa impressão.
Uma menina de 4 anos gravemente queimada, não pode esperar uma morosa decisão judicial ou interessante discussão legal, nessas horas se precisa de alguem que tome a decisão e assuma a responsabilidade.

Não se fala em detalhes clínicos deste caso, mas normalmente o que mais se usa do sangue em queimaduras é a albumina para diminuir as perdas de líquidos através do aumento da pressão oncótica.
Isso é muito grave, tem de ter ação imediata, pois os rins são os primeiros órgãos a falir se isto não for corrigido. Depois a atenção será para as infecções.
Talvez os pais nesse caso não permitissem a albumina, mas pelo vídeo podemos ver o estado do rosto da menina e ter uma idéia da gravidade. Vendo isso numa menina de apenas 4 anos só posso dizer que as Testemunhas de Jeová tornaram esses pais uns verdadeiros retardados mentais ao tirarem ela do hospital e deixarem em casa nesse estado.

Regis Medina escreveu:

"Neste caso, não importa como você interpreta a lei da religião que você segue. Eu exijo que a criança seja transferida com urgência para o hospital. A polícia e os procuradores devem agir em conformidade com a lei e nunca permitir que o estado encontre-se em tal situação de indefesa. Neste caso, não tenho interesse nas opiniões de pais ", desse Mikhail Saakashvili.

Certo ou errado?

Para mim é uma questão muito difícil de responder porque se por um lado acho que o Presidente da Geórgia fez o que deveria fazer, pelo outro, me preocupa quanto ao precedente legal que isso pode abrir naquele país.

Estamos vivendo uma época de grandes mudanças. Época em que os valores tradicionais foram derrubados e os direitos individuais precisam ser repensados.

Isso porque os fundamentalistas religiosos e os contraventores exigem para si tais direitos, para que possam, ao amparo da Lei, violar o direito das demais pessoas.

Quando um muçulmano, num país ocidental como a Holanda, exige, em nome da Liberdade de Adoração, que o Estado permita praticar sua adoração - e o Estado democrático é até mesmo obrigado a policiar que tal direito seja respeitado por todos os seus cidadãos, ele na sua casa, com sua mulher e filhas, não lhes dá o mesmo direito, podendo, como de vez em quando aparece nos jornais, até mesmo matar sua filha ou sua mulher, caso estas se recusem a aceitar sua posição servil e inferior aos membros masculinos da família.

O mesmo acontece quando uma Testemunha de Jeová, em nome do direito de Liberdade de Adoração, nega a seu filho menor o direito à vida, com base em suas crenças pessoais.

A alegação dos fundamentalistas religiosos de que as leis do deus que adoram está acima da lei dos homens perde sua força e seu apelo, quando se analisa que barbaridades o deus do fundamentalista admite em nome da Liberdade de Adoração que pede para si.

Para mim parece óbvio que esse princípio da Liberdade de Adoração tem que ter seus limites fixados e reavaliados pela Sociedade. Enquanto a Sociedade não for capaz de estabelecer claramente quais são esses limites, decisões como a do Presidente da Geórgia ou, para sermos mais voltados para a realidade brasileira, da autoridade policial da ficção, que tantos aplausos recebeu do público brasileiro, o filme "Tropa de Elite 1", estarão beirando a ilegalidade e a contravenção. Hoje, se executa com um tiro na cara um traficante, assassino cruel e a plateia aplaude. Amanhã, pode-se se executar um chefe de família, porque se negou a entregar sua filha para um homem da Lei. É claro que o exemplo é um exagero, mas é o risco que se corre quando se adotam medidas popularmente simpáticas, mas sem a devida cobertura legal. Por isso sou totalmente contra o juiz que aconselhou o então Presidente do Supremo a "escutar a voz das ruas". O que os juízes precisam é fazer leis que independam quer da "voz das ruas", quer da "voz dos palácios".

Entendo o que quis dizer Erreve e concordo com o perigo envolvido em decisões autoritárias, mas acredito que deva haver um principio que tanto respeite a liberdade, mas sobre tudo a vida de um inocente. Tudo pode ser deturpado e aí mora o perigo do autoritarismo, um principio que vise salvar uma vida em perigo imediato, não deveria ser usado de parâmetro ou precedente para tirar a liberdade em causas menores, mesmo que se alegue visar salvar vidas num terceiro plano.

O problema são questões de vida ou morte que exijam rapidez, onde não a tempo para perder, nesse caso alguem tem que chamar para si a responsabilidade e assumir os riscos. Isso é muito raro da parte de políticos, pois os riscos são grandes, mas também populistas podem muito bem aproveitar uma situação dessa para se promover. Não sei qual é o caso do presidente da Armênia, humanismo ou oportunismo, mas com certeza para a menina não importa. Se questões legais de direito fossem discutidas antes de uma ação como no caso dessa menina, ela já estaria morta em sua casa de forma desumana pelas fortes dores ocasionadas pelas queimaduras.
Creio que sempre tenha de uma ação assim ser discutida em sociedade, mas que antes disso precisa haver a ação em nome do que é mais óbvio, a vida. Senão a discussão será inútil para ela.

Reginaldo,

Eu concordo com você, mas o que eu reclamo é que um problema como o relatado ainda não tenha uma solução legal definitiva, sem precisar a intervenção de uma autoridade mais pragmática pois a situação relatada não é, absolutamente, inovadora.

Desde que nos conhecemos como TJs (eu pelo menos há quase 50 anos - 49 anos para ser mais preciso) a questão do sangue rola nos jornais e tribunais sem que nada de positivo/definitivo seja decidido a favor daqueles cuja vida está ameaçada por uma interpretação absurda e equivocada da Bíblia feita por um psicopata.

Já era mais que tempo dos homens da lei e dos políticos, se efetivamente preocupados com o alegado "bem estar do povo", terem resolvido definitivamente essa questão. Mas é mais oportuno e lucrativo (do ponto de vista político) não se dar uma solução à questão e deixar as coisas como estão para ver como é que ficam.

Parece existir uma tendência da parte de justiça de proteger as crianças nesse caso, mas como falou, precisa haver algo estabelecido de forma clara a políticos tem medo em ser claros com alguma coisa...

Embora um adulto testemunha de Jeová esteja tão perdido como uma criança nesse caso do sangue, a justiça terá dificuldade em entender o processo que escravizou essa mente adulta e a conta desse sangue derramado ficará para a Torre de Vigia.
Com adultos a questão de liberdade é mais complicada e tem de ser respeitada, pois teoricamente ele é capaz de decidir e arcar com as conseqüências. Seria bom existir no Brasil, algum órgão governamental para estudar as seitas e dar informação e assessoria a parlamentares nas criações de leis.
OK. Brasil. Sonhei...

Regis Medina escreveu:Com adultos a questão de liberdade é mais complicada e tem de ser respeitada, pois teoricamente ele é capaz de decidir e arcar com as consequências. Seria bom existir no Brasil, algum órgão governamental para estudar as seitas e dar informação e assessoria a parlamentares nas criações de leis.
OK. Brasil. Sonhei...

Nem tanto, Reginaldo,

O Brasil de hoje está ainda muito longe disso. Há um vídeo no Youtube que mostra a irresponsabilidade de nossos políticos que, muitas vezes, assina qualquer coisa sem sequer ler. Isso precisa mudar. Disciplinar direitos é uma questão muito séria e, nas mãos de governos totalitários como o do Irã, China, Cuba etc. pode facilmente descambar para a repressão sanguinária.

Acho que a ONG do Romeu pode ser um bom começo, mas ainda há muito a ser vencido, a começar pela disponibilização da informação para as pessoas e facilitar ao máximo o acesso a elas, que é o que estamos procurando fazer, nós e outras ex-TJs responsáveis.

Para mim o problema maior é não existir uma população pronta para pelo menos entender um texto simples e capaz de discutir um assunto que não seja o BBB, novela ou um funk carioca. Sem uma grande massa medianamente instruída, não há discussão nenhuma relevante.
Que pode contribuir num assunto tão complicado o Deputado federal Tiririca eleito pelo estado mais rico da união? Por mais que seja voto de protesto, esse palhaço representa seu povo, povo que em sua maioria é igual ele, analfabeto funcional. Todo grande avanço para este país (qualquer país) precisa passar pela educação e na melhor das hipóteses isso leva uma geração (elementar -universidade).
Iniciativas como do Romeu são heróicas, mas me lembra a imagem do profeta clamando no deserto, ou semeando no deserto.

Nossa causa é de um pequeno grupo dissidente de um outro pequeno grupo, somente sociedades mais evoluídas dão ouvidos a minorias tão insignificantes.
Mas ainda assim é muito melhor do que não fazer nada.