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A última minoria

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Mensagem por Carminha Ter Out 26, 2010 5:45 pm

Fábio Ulhoa Coelho - O Estado de S.Paulo
Quando Barack Obama, em janeiro de 2009, tomou posse como presidente dos Estados Unidos, a trajetória da luta pelos direitos da minoria registrou evento de simbolismo ímpar - um dos mais importantes cargos do mundo (se não o mais importante) era ocupado, a partir de então, por um negro.

Naquele momento acontecia algo absolutamente impensável há algumas décadas. E acontecia, pode-se dizer, com a naturalidade que devia mesmo caracterizá-lo. Ter-se dado pouca relevância à cor do novo presidente explica-se, exatamente, em razão dos avanços da luta pelos direitos das minorias. A falta de extraordinário destaque a essa particular circunstância revela o amadurecimento da sociedade norte-americana, cerca de meio século depois de deflagrado o movimento pelos direitos civis.

Sendo a assim chamada "raça" da pessoa em tudo irrelevante na avaliação da sua competência como chefe de Estado e de governo, não há mesmo nenhum motivo para dispensar a esse detalhe qualquer atenção desmedida.

A posse de Obama, no entanto, serve também a outra reflexão, igualmente importante para se compreender a trajetória da luta pelos direitos da minoria, para se perceber que, por mais eloquente que tenha sido, naquele momento, o resultado dessa luta, ela ainda não terminou. Há vários exemplos de representantes de outras minorias na chefia de governos e Estados em países democráticos. O gênero da pessoa, há tempos, não tem nenhuma importância na escolha de governantes e até mesmo a orientação sexual não é mais levada em conta em alguns lugares (na Alemanha, por exemplo).

O que demonstrou, na posse de Obama, que a luta pelos direitos da minoria ainda tem chão pela frente foi o acento dado à religião na cerimônia. Além do tradicional juramento com as mãos sobre a Bíblia, abriu-se a palavra à bênção de dois pastores. Sendo os EUA um Estado laico, a reverência dada à questão religiosa no transcorrer do ritual de transmissão da presidência liga-se a um aspecto importante da política: refiro-me ao preconceito contra uma minoria, os ateus.

Esse preconceito habita a política brasileira. É uma história de todos conhecida a tergiversação de Fernando Henrique Cardoso diante da pergunta do jornalista Boris Casoy, num debate entre os postulantes à Prefeitura de São Paulo em 1985, sobre se ele seria ateu. "Se não fosse, é óbvio que teria respondido, de modo direto e claro, à pergunta; se tergiversou, é ateu" - certamente foi isso que pensou algum eleitor. Nos anos seguintes, FHC visitou a Basílica de Nossa Senhora Aparecida no dia da padroeira. Independentemente da crença, ou não, que nutre ou nutria, em Deus, ele tinha de mostrar ao eleitorado que professava uma religião.

Mas por que a cor, o gênero e a opção sexual do candidato a cargos eletivos são, hoje, considerados atributos irrelevantes, mas a crença dele não? Por que o eleitor resiste a eleger um prefeito, governador ou presidente assumidamente ateu?

A questão surge como extremamente oportuna no interregno entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial em curso, quando, diante das dúvidas sobre a descriminalização do aborto, ganhou inusitada e inesperada relevância a crença religiosa cultivada pelos postulantes. Teria qualquer chance de se eleger um hipotético candidato à Presidência da República, no Brasil, que se apresentasse ao eleitorado como ateu?

Os ateus compõem uma minoria. São socialmente discriminados por suas convicções. Preferem, muitas vezes, ocultar a falta de crença na existência de um Deus criador e ordenador a se expor a tais discriminações. Mas, assim como a cor, o gênero e a opção sexual da pessoa, a falta de religião e de fé é atributo que não deveria pesar na hora da escolha dos governantes.

O preconceito contra os ateus origina-se da ideia de que a crença em Deus serve como freio moral. Assim, uma pessoa sem Deus seria desprovida de valores para discernir o certo do errado e, por isso, só conseguiria nortear sua conduta a partir de interesses egoístas. Essa ideia é falsa.

Quem respeita as normas de convivência social com medo da punição divina ou para obter beneplácitos celestiais é, sob o ponto de vista moral, uma pessoa bem mais frágil do que o ateu. Quando este age conforme tais normas, a despeito de qualquer temor de castigo ou desejo de recompensa futura, é porque está convencido da importância dos preceitos morais, tanto para sua própria vida como para a dos outros.

O preconceito contra o ateísmo talvez não seja perceptível no dia a dia. Afinal, não se divulgam discriminações no trabalho, em ambientes sociais ou manifestações culturais. Durante as eleições, no entanto, o preconceito aflora de modo avassalador.

José Serra, em Goiânia, beija o rosário e Dilma Rousseff vai à missa no Santuário de Aparecida - manifestações de religiosidade explícita tornam-se tema obrigatório de campanha, para que os candidatos (ateus ou crentes, pouco importa) possam defender-se eficazmente do preconceito contra o ateísmo.

E enquanto vicejar este preconceito, há sempre o risco de o debate político se contaminar por obscurantismos e fundamentalismos, desviando a atenção da campanha eleitoral para assuntos que fogem aos que realmente interessam ao País. O combate ao preconceito contra os ateus contribui, portanto, para o fortalecimento da democracia. Aliás, fortalece-a o combate a qualquer preconceito.

E assim como a emancipação da mulher é do interesse também dos homens, e o fim do apartheid não trouxe proveito somente aos diretamente prejudicados por essa nefasta política racial, também aos crentes interessa a superação dos preconceitos contra os ateus. Ganharíamos todos nós, os brasileiros, cuja significativa maioria tem religião e nutre fervorosa fé em Deus, se mais este preconceito fosse extirpado da política.

JURISTA, É PROFESSOR DA PUC-SP
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Mensagem por Regis Medina Ter Out 26, 2010 7:23 pm

O Brasil aparenta estar na contra mão do pensamento dos países desenvolvidos. Enquanto nesses o estado laico é cada vez mais forte e a religião mais fraca, aqui um ateu ou agnóstico está sob ataques desde o mais baixo escalão da TV populesca como José Luiz Datena até intelectuais religiosos como Frei Beto. Se bem que o novo e antipático Papa Bento XVI também está caindo de pau no ateismo.
Por outro lado toda essa agitação contra os não crentes pode ser um ato de desespero para manter o volume do rebanho, já os não intelectuais como o Datena deve ser ignorância ou simplesmente sensacionalismo irresponssável.
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Mensagem por Carminha Qua Out 27, 2010 8:59 am

Regis Medina escreveu:O Brasil aparenta estar na contra mão do pensamento dos países desenvolvidos. Enquanto nesses o estado laico é cada vez mais forte ...

...e políticos escondem sua posição religiosa, e ainda outros acusam o ateísmo de provocar males a sociedade.
Os ateus são mesmo a última minoria, nem os políticos parecem estar interessados em seu apoio. Twisted Evil
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Mensagem por Regis Medina Qua Out 27, 2010 9:22 am

Isso ainda vai mudar Carminha, talvez quando alguns políticos meio que sem querer acabarem investindo melhor na educação.
Educação de qualidade para as pessoas comuns é algo que não agrada nem políticos, nem religiosos.
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Mensagem por Carminha Qua Out 27, 2010 9:52 am

Reginaldo, a poucos dias da eleição, eu ainda não decidi em quem votar, e um dos motivos é essa exploração da religiosidade do povo por parte dos candidatos. Aqui no meu estado (Paraíba), vai haver segundo turno para governador, e um fica explorando a posição ateísta do outro para "manchar" a sua imagem perante os eleitores.
E eu não sei o que é pior, votar no que se vale da religiosidade do povo para angariar votos ou no que omite sua posição para não perder votos.
Eu sei também que não é a conduta do candidato que talvez deva pesar mais na escolha, mas seu plano de governo.
Mas é difícil separar as coisas, e pra mim, essa desonestidade ideológica, talvez pelo processo que passamos ao se tornar exTJ, conta muito.
È isso mesmo, talvez quando tivermos educação de qualidade nesse país, as coisas mudem.
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Mensagem por Regis Medina Qua Out 27, 2010 10:33 am

Estava atendendo TJs no campo Rsss

Carminha estou me sentindo na mesma situação. Alem de tudo os partidários de cada lado me lembram religiosos fanáticos de quão acalorada e cega está a briga. Parece que nenhum lado enxerga erros no seu candidato e o outro é o próprio demônio.
O povo não é levado a sério porque é visto como burros por esses políticos.
Propostas que tratam o povo como capaz de entende-las não são apresentadas
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Mensagem por erreve Qui Out 28, 2010 8:25 am

Prezados,

Acho que o que realmente existe é uma tremenda hipocrisia (aliás, como sempre houve) de nossos compatriotas. A Sociedade se diz mais liberal e que aceita, por exemplo, a homossexualidade, mas apedreja o primeiro casal homo que for pego se beijando num lugar público.

A Dilma, o Lula, FH e o Serra, também se travestem de liberais e progressistas (eles adoram esta palavra) mas não sustentam em público suas opiniões, por que sabem que o Brasileiro só é liberal na televisão e da boca para fora. No íntimo mesmo, o brasileiro gosta é de ser patrão, chefe e rico e está pouco lixando se o que ele ganha com a corrupção que promove e ignora está deixando o povo mais desamparado. Vê se o Zé Dirceu, Lula, sua mulher e filhos, com seus discursos e posturas socialistas e comunistas, estão dispostos a abrir mão dos bens que acumularam no governo, em favor do povo? Se comportam como o rico a quem Jesus convidou para fazer isso e ser seu seguidor, mas se afastou entristecido porque, diz a Bíblia "tinha muitos bens...". A esquerda brasileira e a imensa maioria dos políticos (para não ser injusto e dizer todos) é o retrato do povo: de uma maneira geral. Adoram posar de liberais, mas isso na praia de Ipanema e morando na Zona Sul (do Rio) ou nos Jardins em S. Paulo. Era assim na décade 1960 e continua sendo assim com esta turma toda que aí está.
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