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Ataraxia e Obliviação

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Mensagem por Johannes Qua Fev 01, 2012 9:27 pm

Não sei se para alguém aqui estes dois conceitos é algo novo, mas recentemente eu me deparei com o conceito de ataraxia em um debate sobre budismo.

Infelizmente não existe muito material na net sobre esse conceito, mas na wikipédia existe um verbete que pelo menos expõe o básico sobre ele:

Ataraxia (Ἀταραξία "tranquilidade") é um termo grego usado por Pirro e Epicuro para um estado lúcido, caracterizado pela ausência de preocupação.

Para os epicuristas,a ataraxia era sinônimo da única verdadeira felicidade possível para uma pessoa. Significa o estado de tranquilidade robusta que deriva de evitar a fé na vida após a morte, sem temer os deuses porque eles estão distantes e despreocupados conosco, evitando a política e as pessoas vexatórias, cercando a si mesmo de amigos confiáveis ​​e afetuosos e, o mais importante, sendo uma pessoa afetuosa, virtuosa, digna de confiança.

Para os pirrônicos, devido à própria incapacidade de dizer quais impressões sensoriais são verdadeiras e quais são falsas, é a quietude que surge da suspensão do julgamento de crenças dogmáticas ou de qualquer coisa não-evidente e da continuação em inquirir. Da experiência foi dito ter caído sobre o pintor Apeles que estava tentando pintar a saliva espumosa de um cavalo. Ele foi tão mal sucedido que, em um acesso de raiva, desistiu e jogou a esponja, com a qual estava limpando seus pincéis, no ambiente, deste modo produzindo o efeito de espuma do cavalo. [1]

Os estóicos, também, procuravam tranquilidade mental, e viram a ataraxia como algo a ser desejado e freqüentemente fizeram uso do termo, mas para eles o estado análogo, atingido pelo sábio estóico, foi apatheia (apatia) ou ausência de paixão.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ataraxia

Fiquei vários dias pensando sobre esse conceito. Algo tão antigo e ao mesmo tempo tão próximo a conclusão que levei anos para chegar! Como nunca tinha ouvido falar sobre isso antes?

E o outro conceito é mais comum (pelo menos na língua inglesa, oblivion, que está na minha assinatura atual daqui do fórum. Aliás esse vídeo é do excelente jogo do batman, Arkham Asylum e foi muito interessante na época que eu estava jogando ele foi bem no tempo que estava lendo sobre a obliviação. E ao chegar nessa parte do jogo, já era de madrugada, me deparei com o scarecrow falando essa frase! Cheguei até me assustar um pouco devido estar tão absorvido na atmosfera do jogo! Apenas uma das felizes coincidências que o acaso nos traz de vez em quando, e que muitos enxergam como "sinais" ).

Tem a ver com o niilismo, mas de uma forma mais específica. É o FATO de que em algum momento no futuro, TODA nossa existência será transformada no mais puro esquecimento, como se nunca a gente sequer tivesse existido.

Aqui uma definição da wikipédia também:

Um eterno estado de esquecimento, ou falta de conhecimento, é considerado por alguns a ocorrer após a morte. Essa crença contradiz as crenças de que há vida após a morte, como um céu ou inferno, após a morte. A crença no eterno esquecimento decorre da idéia de que o cérebro cria a mente, portanto, quando o cérebro morre, a mente deixa de existir. Benjamin Franklin escreve sobre isso em uma dissertação sobre Liberdade e Necessidade Prazer e dor, afirmando: [1]

In a sound Sleep sometimes, or in a Swoon, we cease to think at all; tho' the Soul is not therefore then annihilated, but exists all the while tho' it does not act; and may not this probably be the Case after Death? . . . . Now upon Death, and the Destruction of the Body, the Ideas contain'd in the Brain, (which are alone the Subjects of the Soul's Action) being then likewise necessarily destroy'd, the Soul, tho' incapable of Destruction itself, must then necessarily cease to think or act, having nothing left to think or act upon.

"Em um sono profundo, por vezes, ou em um desmaio, praticamente deixamos de pensar; ainda assim a alma não é aniquilada, mas existe o tempo todo embora esteja sem ação; e não pode este ser provavelmente o caso, após a morte? . . . . Agora sobre a morte, e a destruição do corpo, as idéias contidas no cérebro, (que são os únicos entes da atividade da alma), sendo então também necessariamente destruídas (as idéias), a alma, embora incapaz de destruir a si mesma, deve então necessariamente deixar de pensar ou agir, não tendo mais nada para pensar ou agir.

http://en.wikipedia.org/wiki/Oblivion_(eternal) Tradução automática do Google.

A obliviação também é representada por um rio, na mitologia grega, o rio Lethe. Os recém mortos ao entrar no mundo dos mortos precisavam beber a água desse rio para poder esquecer por completo toda sua existência anterior, somente depois disso poderiam seguir adiante e reencarnar novamente.

http://en.wikipedia.org/wiki/Lethe

“Mischa, we take comfort in knowing there is no God. That you are not enslaved in a Heaven, made to kiss God’s ass forever. What you have is better than Paradise. You have blessed oblivion.” - Hannibal Lecter

"Mischa, tomamos conforto em saber que Deus não existe. Que vc não está escravizada em um céu, feito para beijar a bunda de Deus para sempre. O que você tem é melhor do que o Paraíso. Você tem a abençoada obliviação. " - Hannibal Lecter sobre sua pequena irmã assassinada, Mischa.

O choro de Xerxes

Chegando ao centro de Abidos, Xerxes quis ver a totalidade de seu exército. Tinha-lhe sido preparado com antecedência numa colina - lugar escolhido propositalmente - um palanque de mármore branco, construído pelos abidenos em obediência a uma ordem prévia do Rei; sentado lá, Xerxes, dirigindo o olhar daquela elevação para a orla marítima, contemplou as forças terrestres e as naus.

Enquanto as contemplava, veio-lhe o desejo de presenciar uma competição náutica; houve a competição, vencida pelos fenícios de Sídon, e Xerxes ficou encantado com o espetáculo e com suas forças. Quando viu todo o Helesponto coberto por suas naus, e toda a orla marítima e toda a planície do território de Abidos cheias de seus soldados, Xerxes inicialmente se congratulou consigo mesmo por sua felicidade, mas em seguida chorou.

Notando isso, Artábano, seu tio pelo lado paterno - o mesmo que pouco tempo antes lhe havia dado francamente sua opinião e desaconselhado o ataque à Hélade -, esse homem, percebendo as lágrimas de Xerxes, fez-lhe a seguinte observação:"Como são diferentes, Rei, a tua atitude de agora e a de poucos momentos atrás! Congratulavas-te contigo mesmo por tua felicidade, e agora choras!

Xerxes respondeu: "Quando comecei a meditar sobre a brevidade de toda a vida humana senti uma grande compaixão, pois sendo aqueles homens tão numerosos, nenhum deles estará vivo dentro de cem anos".

Artábano replicou dizendo: "Há outro sofrimento, que nos acompanha durante toda a vida, Rei, digno de compaixão ainda maior. No curso de uma vida tão breve, homem algum é tão feliz, seja entre aqueles, seja entre outros, a ponto de não ser compelido muitas vezes, e não uma só, a desejar estar morto em vez de vivo. Os infortúnios aflitivos e as doenças torturantes nos levam a achar a vida longa, por mais breve que ela seja. Assim, diante das agruras da vida a morte se torna o refúgio mais desejável para o homem, e a divindade, deixando-nos provar apenas alguma doçura no tempo alocado à nossa vida, revela dessa maneira o seu despeito".

Xerxes replicou dizendo: "Sendo a condição humana, Artábano, exatamente como a defines, não falemos nisto, não pensemos em males enquanto a felicidade está em nossas mãos."

Heródoto, Histórias, Tradução de Mário da Gama Kury, Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1985, p. 354-365.


Penso que Xerxes estava certo ao dizer que a melhor atitude perante a obliviação seja exatamente o ato de não lembrar sobre ela. Mas ao mesmo tempo existe um paradoxo porque muitas vezes para usufruir melhor a vida temos de ter a plena consciência sobre a obliviação, o famoso "não levar a vida tão a sério". Penso que o atingimento da ataraxia, seja justamente o perfeito equilibrio entre lembrar e esquecer a obliviação durante nossa existência.

Espero que esses conceitos sejam novidade para alguém e que possam ser tão utéis quanto o são para mim.



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Mensagem por erreve Qui Fev 02, 2012 10:36 am

Grande Johannes:

Achei muito interessante sua postagem e, de fato, nunca tinha ouvido falar do assunto.

Na verdade, nunca me interessei pela área (Filosofia) que sempre foi demonizada pelas TJs. Lamento muito a falta de treinamento nesta, que é uma das mais sérias e importantes atividades do pensamento humano.

Me sinto meio aleijado por essa ignorância, pela falta de experiência e conhecimento sobre o assunto que é muito vasto e possui uma terminologia riquissima, a qual explica muito do que sentimos e pensamos, muitas vezes até mesmo sem saber o explicar. Afinal, como dizem, os gregos pensaram nisso antes de nós. Smile

Um abraço,
RV
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Mensagem por Regis Medina Sex Fev 03, 2012 10:26 am

Tenho tentado ler mais sobre o assunto, gosto de filosofia, mas algumas vezes me perco no que o autor quer dizer. Recentemente li o romance "O mundo de Sofia" que é bem light, agora estou terminando "O Anticristo" do qual tive não só de parar mais recorrer a consultas para entender a argumentação. Estou achando difícil tentar acompanhar.

Gostei da explicação que deu da Ataraxia e da visão acerca disso por parte dos epicureus, pirrônicos e estoicos, muito interessante mesmo. Me simpatizo com o pensamento que me parece mais equilibrado em buscar a felicidade POSSÍVEL, por outro lado acho interessante ter em mente que realmente somos facilmente enganados por nossos sentidos.



Os Gregos embora mais de um milhar de anos atrás em relação a nós tão tecnologicamente avançados, levavam algumas vantagens no campo da filosofia.

Uma é que apesar dos anos todos, continuamos Homo sapiens sapiens com os meus medos e desejos. Nossa essência não mudou a antiga analise é tão valida como se fosse feita ontem.

A cultura grega favoreceu a filosofia por muitos seculos e a escravidão de outros povos ajudou muito nisso. Pensadores gregos se dedicavam exclusivamente ao escrutínio, a curiosidade, ao debate.

Nossa sociedade perdeu isso, poucos recebem uma formação filosófica. Por isso que fico assustado e até envergonhado com tantos temas que para mim são fantásticos, mas gregos, romanos, árabes já discutiam há muito tempo.

Obliviação

Acho que esse tema é pior que o da morte. Se a morte como o simples fim da vida faz crentes pirarem, imagina dizer que no fundo nenhum registro seu sobreviverá ao tempo. Tudo será perdido até mesmo a Terra.
A posteridade ainda acalenta muitos, mas pare ser franco pouco conheci de meu próprio avô e bem menos ainda de meu bisavô, antes disso não sei absolutamente nada, uma vida esquecida. O mesmo acontecerá conosco, quer eu queira ou não.
Me resta buscar a ataraxia de Epicuro.
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Mensagem por Johannes Sex Fev 03, 2012 4:01 pm

Regis Medina escreveu:Me simpatizo com o pensamento que me parece mais equilibrado em buscar a felicidade POSSÍVEL,

Eu lembro que estava debatendo justamente sobre a mistificação do nirvana dentro do budismo, e muitos budistas (ou simpatizantes filosóficos do budismo) encaram o nirvana como algo irreal, pelo menos no sentido "hollywoodiano" da coisa. Foi então que alguém lançou o conceito de ataraxia e disse que talvez esse conceito seja o mais real que o nirvana poderia ser, e que talvez na época de Buddha esse era o real sentido do nirvana. Eu penso que felicidade ou a ausência de sofrimento/ insatisfação não sejam estados contínuos e sim momentâneos. Talvez a meditação proporcione um estado mental mais propício para se manter no estado de não sofrimento, e que talvez com bastante treino, um meditador consiga controlar esse estado de forma masterizada, assim como alguém que treina seu corpo e consegue proezas acima da média. Pelo menos é oque a ciência já comprovou ao estudar a atividade mental de Mingyur Rinponche enquanto estava em estdo de meditação.

Ataraxia e Obliviação Mingyur-rinpoche-meditation-and-the-brain

Regis Medina escreveu:Acho que esse tema é pior que o da morte. Se a morte como o simples fim da vida faz crentes pirarem, imagina dizer que no fundo nenhum registro seu sobreviverá ao tempo. Tudo será perdido até mesmo a Terra.
A posteridade ainda acalenta muitos...

O famoso "se continua vivo enquanto estiver no coração de outras pessoas" só funciona por umas poucas décadas para a maioria dos falecidos. Um dia todo o conhecimento humano irá se perder, junto com pessoas que ainda continuam sendo lembradas por várias gerações, como Mozart, Alexandre o grande, Newton, Shakeaspeare... todos eles ainda caminham ao encontro da obliviação. E se o modelo físico atual do cosmos estiver certo, até o universo será resetado um dia, no big crush.
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Mensagem por erreve Seg Fev 06, 2012 11:51 am

Pois é, essa é que me pareceu, quando li, a razão de se definir ataraxia e oblívio. O medo da morte e do esquecimento. Reveste-se o pós-morte com explicações simplesmente destinadas a descrever o Nada. E o Nada, em minha opinião, não precisa ser descrito. Ele é autosuficiente.

Em minha opinião, por mais que se raciocine, a verdade é que, para nós, como pessoas, não há nada depois da morte, como não havia nada a nosso respeito, antes de nascermos, e isso nunca nos incomodou (aliás Johannes, foi você mesmo quem disse isso).

O fato de depois de sermos concebidos tomarmos sentido da vida nos faz ficar agarrados a ela. Lutamos contra a ideia de que um dia teremos que deixá-la. Que me importa se serei esquecido daqui a mil anos ou logo depois de ser enterrado? A mim nada, já que o resultado final é o mesmo a não existência, tão logo o organismo e, consequentemente, o corpo, parem de funcionar.

Por outro lado, se a ideia me desagrada (e me desagrada, afinal eu queria viver para sempre, no paraíso na Terra), não há espaço para nutrir minha fantasia com céus e infernos e não resta outra alternativa senão aceitar que este será o meu destino (o Nada) como foi dos que vieram antes de mim e como será dos que vierem depois.
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Mensagem por Regis Medina Qui Fev 09, 2012 8:58 am

É como penso e sinto também Erreve, é isso que os fatos demonstram e não uma ilusão fantástica. Aceitar os fatos e procurar viver com a realidade me faz me valorizar mais o tempo com meus filhos, esposa e amigos.
Isso me lembra uma musica que acho bastante bonita mas também realista.

!Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá..."

https://www.youtube.com/watch?v=UjRwuGsugdE
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